sábado, 6 de agosto de 2011

‘Nunca vi tanta lama’, diz fazendeiro sobre cidade de SP após cheia de rio

06/08/2011 07h14 - Atualizado em 06/08/2011 07h15

‘Nunca vi tanta lama’, diz fazendeiro sobre cidade de SP após cheia de rio

Eldorado é uma das 17 cidades afetadas por alta do Rio Ribeira do Iguape.
Moradores deverão passar fim de semana retirando a lama das ruas.

Paulo Toledo Piza Do G1 SP, em Eldorado
Trator retira lama após cheia do rio (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Trator retira lama após cheia do rio (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Moradores de Eldorado, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, tentam retomar a rotina depois que as águas do Rio Ribeira do Iguape invadiram casas e fazendas. O fim de semana deverá ser macado pela limpeza e pela retirada de lama das ruas. O rio, que segundo a Defesa Civil do município chegou a 13,31 metros na noite de terça (2) após dias de chuvas intensas, já baixou, mas deixou toneladas de lama e sujeira.
Ao todo, 17 municípios da região foram afetados pelas enchentes – incluindo Registro e Sete Barras. Apenas em Eldorado cerca de 8,5 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas.
Grande parte das lavouras de bananeiras – base da economia do município – foi atingida pelas enchentes. Dono de uma propriedade rural à beira do rio, o fazendeiro Felipe Vilares, de 47 anos, ainda tenta calcular o prejuízo. “Boa parte da plantação foi destruída. A lama invadiu as casas dos funcionários, o barracão onde ficam os veículos. Nunca vi tanta lama assim”, afirma.
A força da água foi tamanha que dois lagos desapareceram após serem tomados por lama e detritos. Gansos que viviam no local caminhavam com dificuldade no lamaçal nesta sexta (5). Menos sorte tiveram os oito carneiros que Vilares tinha. Quando a água do riu invadiu, eles se dispersaram e acabaram morrendo arrastados pela correnteza.
Menino procura brinquedo em lixo (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Menino procura brinquedo em lixo (Foto: Paulo
Toledo Piza/G1)
Segundo o fazendeiro, que vive há 40 anos em Eldorado, as cheias do Ribeira do Iguape são comuns, mas não tão destrutivas. Apenas uma ocorrida em 1997 é comparável à do início desta semana. “Acho que vai levar uns três meses para a fazenda voltar a funcionar normalmente”, lamenta.
Não foi apenas a área rural a afetada pela enchente. As ruas próximas ao rio estavam com uma grossa camada de detritos, que aos poucos era removida por tratores e esguichos de água. Quem teve de abandonar às pressas suas casas aos poucos voltava para contabilizar o prejuízo. “Eu perdi muita coisa. Foi colchão, máquina de lavar, roupas, documentos, tintas que uso para trabalhar. Por baixo, acho que tive um prejuízo de R$ 15 mil”, afirma o funileiro Elizeu da Trindade, de 40 anos.
Ele conta que, na terça-feira, quando soube da possibilidade da cheia do rio, colocou os móveis principais, como eletrodomésticos e sofá, a uma altura de 1,5 metro. “Eu achava que ia molhar só o chão. Era o que todo mundo dizia.” Quando a água começou a entrar, ele correu para um sítio de conhecidos em uma cidade próxima. “A água subiu muito mais, chegou ao teto. Foi muita falta de informação. As autoridades não alertaram que isso ia acontecer.”
Questionada pelo G1, a Defesa Civil diz que as previsões indicavam, sim, que a cheia do rio poderia fazer com que a enchente invadisse as casas. “Colocamos carros de som para alertar os moradores de bairros de risco. Anunciamos no rádio, orientamos a comunidade”, afirma Aline Leite, chefe de divisão do departamento de Meio Ambiente da Prefeitura e que também atua na Defesa Civil.
Posto
Proprietário de um posto de combustíveis, o empresário José Carlos Safenraider, de 49 anos, manteve seu estabelecimento fechado por cinco dias. A lama cobriu as bombas de etanol e de gasolina, invadiu a loja de conveniência e inutilizou tudo que havia lá. “Ainda bem que consegui salvar os combustíveis quando trouxe um caminhão-pipa. Tinha uns R$ 30 mil em combustível nos tanques.” Apesar disso, ele calcula que o tempo fechado e os alimentos e equipamentos presentes na loja tenham lhe causado um prejuízo de R$ 40 mil.
A lama também invadiu lojas e supermercados. Na porta de um comércio, montes de comida, brinquedos e produtos sujos de lama atraíam cães e crianças que, alheios ao risco de doenças, reviravam o lixo atrás de algo aproveitável.
Apesar do acúmulo de sujeira e lama na cidade, os moradores ficaram aliviados pelo fato de não haver registro de conterrâneos mortos. “Graças a Deus estamos bem. O prejuízo foi apenas material, que dá para recuperar”, diz o comerciante Ney Barbosa, de 44 anos.
sítio fica irreconhecível após cheia (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)sítio fica irreconhecível após cheia (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)

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