domingo, 14 de agosto de 2011

Vai encarar? Com 2,04m, Fábio Santos é o maior zagueiro do Brasil


13/08/2011 07h50 - Atualizado em 13/08/2011 14h45

Vai encarar? Com 2,04m, Fábio Santos é o maior zagueiro do Brasil

Após ignorar convites para jogar basquete e ser goleiro, jogador do Caxias (RS) conta situações inusitadas que enfrentou por conta da estatura

Por Cahê Mota Direto de Caxias do Sul (RS)
Tamanho pode até não ser documento, mas que impõe respeito, impõe. Que o diga Fábio Santos. Com 2,04m de altura, o jogador do Caxias (RS) optou pelo esporte como forma de ganhar a vida. A estatura faria dele uma grande promessa para equipes de vôlei ou basquete, mas a opção foi pelo caminho mais improvável: o futebol. E se, aos 30 anos, a carreira não é marcada por passagens em grandes clubes ou conquistas, um título ninguém tira desse fluminense de Itaboraí: o de zagueiro mais alto do Brasil.
Fábio Santos e Pantico, do Caxias (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)Fábio Santos, de 2,04m, brinca com pequenino Pantico, de 1,63m, em treino (Cahê Mota/Globoesporte.com)
Revelado pelo América e com breve passagem pelo Vasco, em 2002, antes de rodar o Oriente Médio por sete anos até chegar ao clube de Caxias do Sul, ele foi perseverante na infância para ter a bola nos pés e não nas mãos e de cor laranja. Acostumado a ser o maior da turma desde pequeno, o Bambu, ou Vareta, como era chamado, era alvo da cobiça de treinadores de basquete, esporte que nunca o seduziu.
Já tentaram me levar para o basquete quando eu tinha uns 14 anos, mas não tinha como. Nunca levei jeito para isso. Nem tentei. Gosto mesmo é do futebol"
Fábio Santos, zagueiro do Caxias (RS)
- Já tentaram me levar para o basquete quando eu tinha uns 14 anos, mas não tinha como. Nunca levei jeito para isso. Nem tentei. Gosto mesmo é do futebol. Já cogitaram me usar no gol, mas nunca aconteceu. Comecei com 12 anos em uma escolinha em São Gonçalo e estou aí.
Sem jeito para ser goleiro, a função de defensor era o caminho natural para o jovem que sonhava com o mundo da bola. Na trajetória, no entanto, a altura nem sempre foi uma aliada. Cada vez mais distante dos amigos nas avaliações anuais, Fábio Santos temeu não parar de crescer, mas hoje agradece os 2,04m, medidos cuidadosamente na chegada ao Caxias (quando veio do Linense (SP), seu último clube, a ficha técnica apontava 2,02m).
- Quando tinha uns 18, 19 anos, já estava crescendo mais e pensava: “Poxa, será que vou até aonde? Já está demais!” (risos). Tinha quase dois metros e meus amigos eram baixinhos. Mas depois valeu a pena.
Em campo, a estatura torna o jogador uma barreira quase intransponível nas bolas aéreas, conforme ele mesmo garante. Há, por outro lado, os malefícios. Sem tanta agilidade por motivos óbvios, Fábio Santos admite que sofre diante de jogadores mais baixos e a atenção tem que ser sempre redobrada.
- É uma estatura grande para jogador de futebol, né? Por um lado é bom, ajuda nas bolas aéreas, mas por outro acabo encontrando dificuldades com jogadores mais rápidos. É importante ficar ligado, porque complica. O baixinho é sempre mais veloz (risos). Se não ficar esperto, não dá para chegar.
Encarar a “torre” de 2,04m, entretanto, não é uma missão das mais fáceis. Se a mobilidade pesa contra o gigante do Caxias do Sul, o visual muitas vezes intimida adversários, que acabam evitando o duelo.
- Sempre um ou outro adversário se espanta e fala que sou alto demais. Rola aquela resenha. Tenho que tirar proveito disso. Acabo ajudando na defesa, me imponho. Se perder na bola aérea com essa altura é complicado. Não pode. Pelo alto, eu me garanto.
Chuteiras número 47 têm que ser importadas
Chuteira de Marinho dentro da de Fábio Santos (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)Chuteira de Marinho, que tem 1,65m, cabe dentro
da de Fábio Santos (Cahê Mota/Globoesporte.com)
Acostumado a contornar as situações inusitadas em campo, Fábio Santos revela que no dia a dia a estatura o coloca muitas vezes em algumas saias-justas. Seja no período em que viveu no Oriente Médio (defendeu clubes do Qatar, Líbano e Síria) ou em momentos comuns ao dia a dia de um jogador de futebol, é necessário ter jogo de cintura para evitar constrangimentos.
- Lá fora o pessoal é mais baixo ainda. Então, onde chegava todo mundo olhava, ficava assustado. Mas com o tempo ficava tranquilo. O pior é em viagem de avião. É muito apertadinho. Quando o time vai de ônibus, pego sempre duas cadeiras e vou com a perna esticada, de lado.
Outra dificuldade encontrada por Fábio Santos em comparação a companheiros com estatura “normal” é para encontrar material. Calçando número 47, o zagueiro não acha chuteiras para comprar no Brasil e encomenda ao cunhado, que vive na Inglaterra. Todos os empecilhos, no entanto, são encarados com bom humor pelo defensor que, mesmo aos 30 anos, não se priva do direito de sonhar.
- O ser humano vive de sonhos. Depois de tanto tempo lá fora, estou tendo um recomeço. O Caxias é uma boa vitrine e tenho, sim, o desejo de ainda defender um grande.
E Fábio Santos ganhou um aliado nessa caminhada. Ex-zagueiro de Inter, Santos e Palmeiras, Argel assumiu o comando do Caxias no início da semana e promete lapidar o gigante para potencializar sua principal virtude: a estatura.
- O perfil do zagueiro brasileiro mudou muito nos últimos anos. Antigamente, era comum nomes de 1,80m. Ricardo Rocha, Antônio Carlos, Célio Silva, não eram muito altos. Hoje em dia é preciso ter, no mínimo, 1,90m. Mas não adianta ter só altura. Não dá para ter dois metros e ser lento. É preciso unir isso com a mobilidade, velocidade, tempo de bola, impulsão. Esse é o perfil que o futebol mundial procura. É preciso aliar tudo isso, ter um equilíbrio. O Fábio é forte, vigoroso, bom nas bolas aéreas, assusta, impõe respeito, mas precisa melhorar a velocidade.
E assim, com um bom professor e sem limites para sonhar, Fábio Santos entra em campo neste domingo para defender o Caxias diante do Joinville (SC), pela Série C do Brasileirão, mas, principalmente, para mostrar que se tamanho não é documento, pode abrir portas quando bem utilizado.
Fábio Santos, do Caxias, maior zagueiro do Brasil (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)Cara de bravo e 2,04m: Fábio Santos, o maior zagueiro do Brasil (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)

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