quarta-feira, 31 de agosto de 2011

'Voz de Zico' aprendeu português na Espanha e diz ter 'missão' no Iraque


31/08/2011 09h08 - Atualizado em 31/08/2011 09h52

'Voz de Zico' aprendeu português na Espanha e diz ter 'missão' no Iraque

Tradutor Salan Kamil nasceu em Bagdá, trabalhou com Udai Hussain e foi intérprete na campanha da Copa do Mundo de 1986

Por Bruno Machado Direto de Erbil, Iraque
Quando os novos dirigentes da Federação Iraquiana pensaram na contratação de um treinador brasileiro, imediatamente entraram em contato com Salam Kamil, de 48 anos, empresário iraquiano que mora em Madri e trabalha com exportação de alimentos. Salam atualmente exporta azeitonas, azeite e outros produtos da Espanha para o Brasil e para o Iraque, mas seu passado e amizade com Edu Coimbra e Zico foram evocados na busca pelo novo treinador. Hoje não há registro de um atleta brasileiro sequer ou mesmo um treinador em solo iraquiano, assim como na década de 80, quando Salam foi parar no futebol.
zico ao lado de salam kamil iraque (Foto: Bruno Machado / Globoesporte.com)Salam Kamil conversa com Zico: tradutor trabalhou com Edu Coimbra, irmão do Galinho, dentre outros brasileiros (Foto: Bruno Machado / Globoesporte.com)
- Fui um dos primeiros a trazer técnicos e profissionais brasileiros ao Iraque há mais ou menos 30 anos. Ajudei a contratar treinadores, assistentes e médicos. E acabei parando nisso porque aprendi português lidando com amigos da Galícia (região autônoma na fronteira com Portugal cujo idioma próprio, o galego, é fortemente influenciado pelo português) durante meus anos de estudo de engenharia técnica industrial em Barcelona, para onde segui aos 17 anos. Na volta, acabei sendo intérprete de Jorge Vieira, Edu Coimbra, Evaristo de Macedo e fiquei muito amigo do Dr. Runco - explicou.
Salam tem 'missão' de levar alegria ao povo através do futebol
zico iraque treino (Foto: Bruno Machado / Globoesporte.com)Jogadores do Iraque se reúnem em volta do técnico
Zico (Foto: Bruno Machado / Globoesporte.com)
Já há em alguns países do Oriente Médio profissionais que falam português e árabe, ligados ao futebol, e até alguns escritórios estabelecidos. Este não é o caso do Iraque. Na cidade de Erbil, que tem cerca de um milhão e meio de habitantes, não há iraquianos que saibam português. Por isso, mais do que ajudar a trazer Zico, Salam teve que deixar mulher e filhos na Espanha para ser a voz do treinador em árabe.
- Saí do futebol na década de 90 para me dedicar aos negócios na Espanha, mas sou iraquiano e o coração me chamou de volta à pátria. Ficaram muitos amigos aqui no futebol iraquiano e no brasileiro. Sinto-me com a missão de ajudar a trazer a alegria de volta ao povo e só o futebol consegue isso, além de quebrar barreiras. Fiz parte do projeto que levou o Iraque ao seu primeiro Mundial, em 1986, com um brasileiro treinador (Evaristo de Macedo), e quero fazer parte da ida
do país à segunda Copa do Mundo - comentou.
Tradutor trabalhou com filho de Saddam Hussein
Nos primeiros anos da década de 80, Saddam Hussein colocou um de seus filhos, Udai, para cuidar do futebol e dos esportes olímpicos no Iraque. Ambos foram acusados de comandar torturas e humilhações quando a seleção perdia. Além de buscar os profissionais e fazer as
traduções, um dos trabalhos de Salam Kamil era intermediar a relação com os Hussein.
- Sempre lidei muito bem com o Saddam e com seu filho e, apesar de nunca ter presenciado, sei que foram feitas muitas coisas com as quais não concordo. Meu papel naquele momento era ajudar os profissionais brasileiros, mas hoje posso dizer que o regime dele no país foi muito
justo na hora de dividir suas injustiças. Nos acertos, todos acabaram beneficiados, e nos erros o país todo sofreu muito e da mesma forma. Vivemos agora em uma democracia e o país pode voltar a crescer. É melhor assim – analisou Salam.
'Conheci os pais de Zico, isso ajuda muito'
Zico está a menos de uma semana no país e Salam Kamil garante que ainda não ficou em dificuldade na hora de traduzir alguma expressão tipicamente brasileira nos treinos com os jogadores ou nas entrevistas com a imprensa. Pelo menos uma vez por mês nos últimos anos, ele viaja ao Brasil em função de seus negócios e, por isso, acredita que está com o português afiado.
- Interpretar é uma arte. É como pintar um quadro. Precisamos de técnica e sensibilidade para captar a essência e fazer um bom trabalho. Minha relação com os Antunes é longa, conheci os pais de Zico, e acho isso tudo ajuda muito. Tive e tenho muito contato com brasileiros e treino bastante o português. Estou pronto para a nova missão - completou.Fonte globo esport

Nenhum comentário:

Postar um comentário